A pressão do início do ano
- Noele Gonzaga
- 3 de jan.
- 2 min de leitura
Você também sente a pressão que chega com o início de um novo ano? Para muitas pessoas, janeiro traz uma avalanche de expectativas, metas e a sensação de que precisamos começar tudo "do jeito certo". Essa pressão, no entanto, pode carregar muito mais do que o desejo de fazer planos. Muitas vezes, ela esconde inseguranças e medos que têm raízes profundas na nossa história de vida.
Desde pequenos, aprendemos a associar marcos no tempo — como aniversários, início de ciclos escolares ou até o ano novo — com a oportunidade de provar o nosso valor. Em lares onde faltava acolhimento emocional, onde a cobrança era constante ou onde nossas necessidades ficavam em segundo plano, internalizamos a ideia de que só seremos amados ou aceitos se atendermos às expectativas externas. Essa lógica pode nos acompanhar na vida adulta, transformando algo tão simples quanto o planejamento de um novo ano em uma verdadeira prova de capacidade.
A pressão de "fazer tudo certo" pode ser uma tentativa inconsciente de reparar algo do passado. Freud nos ajuda a entender que somos moldados pelas experiências infantis, e Winnicott aprofunda essa visão ao falar sobre o verdadeiro e o falso self. Se na infância nos adaptamos demais às expectativas dos outros, podemos começar a viver um personagem, deixando de lado nossos desejos reais. Quando o ano vira, o peso de planejar e realizar muitas vezes não vem de um desejo autêntico, mas de uma necessidade de preencher lacunas emocionais ou de evitar o medo de "fracassar" diante do olhar alheio.
E assim, janeiro vira um mês de angústia. O sentimento de que "preciso começar com tudo em dia" toma conta. Planilhas, resoluções, agendas impecáveis… Mas, por trás disso, muitas vezes está a sensação de que nunca fazemos o suficiente, não importa o quanto nos esforcemos. Ao invés de trazer motivação, essa pressão nos deixa ansiosos e desconectados do que realmente importa.
A psicanálise nos mostra que aliviar essa carga começa por nos conhecermos melhor. Perguntar a si mesmo: "De onde vem essa necessidade de fazer tudo perfeito?" é um convite para olhar além do calendário. Talvez a resposta esteja em experiências do passado, na sensação de que, para sermos aceitos, precisamos atender às expectativas de todos. Mas aqui vai um lembrete importante: você não precisa carregar todas essas metas sozinho(a). Não precisa provar nada para ninguém.
Quando começamos a compreender essas raízes emocionais, podemos redefinir o início do ano. Não como uma maratona de metas inalcançáveis, mas como um espaço para reflexões honestas. O que realmente faz sentido para você agora? O que traria leveza? E, acima de tudo, como você pode cuidar melhor de si mesmo(a) neste processo?
Se o início do ano tem sido um período de cobrança e ansiedade para você, talvez seja a hora de mudar o olhar. Não existe um "jeito certo" de começar. Existe o seu jeito. E isso já é o suficiente.
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